Própria morte
Própria morte
Eu não ligo
Se o feijão está caro
e o pão está vencido.
Não ligo...
Se cortaram a luz
Se a água nem pinga
Se a pinga no bar com os amigos
É usufruto de luxo.
Nem ligo
Não tenho mais direito...
Nem ligo
Para tudo isso!!!
Eu não ligo
A tevê de horrores
Nem a chave do carro
Porque a gasolina aumentou
E o gás está mais caro!
Meu caro,
Eu nem ligo
Para tudo isso estampado no jornal!
Nem tenho mais domingos
Nem cerveja
Nem amigos!
E eu nem ligo
Se a água do mar ficar doce
Porque a da represa, a empresa estragou!
O governo marca mais um gol
De ferradura na gente,
Nem ligo
Para nao ter mais dor de dente
A minha poesia já era...
Eu nem ligo
Porque o botão desligou
Estou em preto e Branco
E nenhuma mais cor
Nesse circo de horror!
Já nem ligo
Se a bandeira desbotou
Amanhã, no outro dia
Minha foto estampará o jornal
Nas páginas policiais
Como algum ignorado
Porque nem ligo
Se nem mais a esperança restou:
"Desafia,
o nosso peito,
a própria morte".
Marcus Vinicius