As Palavras!!!
Tenho consciência que fui abandonado, definitivamente abandonado pelas palavras,
as secretas, as que acompanham os poetas, mesmo quando estes como eu, andam absortos, vagando rotos pelas ruas e praças.
As palavras não seguem qualquer um.
Há tantos segredos nessa relação! Apresentam-se vestidas, despem-se numa estação sob medida! São puras, virgens, mesmo quando escolhem a companhia das meretrizes.
As que saem nuas, alucinadas no oriente, usam burcas, são recatadas.
Poucos, pouquíssimos poetas a conhecem, enigmáticas, só aparecem em ritos.
O ritual das palavras!!! Quando elas se vestem para encantar o seu eleito, tornam-se um ato sagrado, dançam envolvidas em sedas diafanas, alí,
são divinas, fala da criação, encantadas, se esterilizam, se evaporam.
Despojar uma palavra virgem e ouvir o seu grito na voz e sensibilidade do ator Roque Lázaro, é um privilégio!
São elas que escolhem aqueles que devem dizer!
Os eleitos são raros, as palavras bailam quando pronunciadas, emocionam quando são devidamente empregadas, sem aviso riscam os nossos cadernos e impregnam a nossas almas de chuva de sereno nas madrugadas.
Hoje cedo, esperei para um café, e elas não vinheram, desconfiadas se esconderam atrás dos sortilégios. Sentir todo o seu desprezo e fascinação, ao meu encontro não veio porque? Sei que sou
um poeta medíocre que não sabe ler nem decifrar o silêncio e nem as metáforas. Elas, as palavras, são acolhedoras, vieram cedo carregadas de flores e deixaram as margaridas no jardim e um bilhete encharcado de sereno:
- Um dia apareço!