Abstrato
Das constantes oscilações
Nem tão constantes pois variam frequência e modulam a amplitude
Da cura precoce da infecção que virará epidemia
Da luz que só fulgura ao dia
Da escultura burocrata entalhada nas fibras do tempo
Do brilho tênue e fosco do teu olhar
Que se propaga através do vácuo que nos divide
Das tuas intenções que não cometem crime
Da minha culpa pela (im)perfeição
E por isso ser um cativo não sentenciado
Do navio que perdemos
Do preço da viagem que não fizemos
Das cores e vozes que ecoam eternamente
Do eterno caleidoscópio que nos ilude
Da assimetria das tuas curvas
Das tuas esmolas escritas
Das tuas poucas palavras de piedade
Do resultado que não fechou nessa (in)equação
Da estupidez intrínseca em não depreender
De jamais dizer "eu amo você"
Da minha única distração
Dos artigos para revisão
Da areia movediça que devora a sanidade
Das coisas que hoje sei
Mas que jamais aceitarei
Do que ontem era tudo
E hoje é só o ontem
Do barro intocado do teu corpo
Da estrela que doravante brilha em outra constelação
Do teu amor com sabor biliar
Dos teus olhos negros como o rio (negro)
Que jamais olharam nos meus
Por medo de sentir e não dizer
Eu amo você