Ter humano
Era insubstituível e se tornou mais um, o mesmo.
Foi ao encontro do livre arbítrio
Sob a pena de se prender nas amarras da própria escolha.
O grito de felicidade não abafa o de infortúnio
Pois este é um eco, escondido nos confins de nossas cavernas,
que perdura.
Rasga-se até encontrar a pele perfeita
E a dor do rasgo fica sobrepujada a esperança
que o consome com sua aquiescência.
Vamos assistir a mais um nascimento favorável
às máquinas, seu verbo preferido será “ter”.
Tem inveja da fumaça que toca as nuvens e a elas se mistura.
Eu criei a fumaça, o fumo, o vício.
Mas por causa dela, um dia, misturar-me-ei também às nuvens,
e tudo isso ficará para outros de outros.
Marcha num ritmo dependente e coletivo,
Aprende primeiro as cores e depois as palavras
porque aquelas são mais fáceis de traduzir, são o que são,
e palavras não são; somos.
Acha bonita a verdade, mas não a conquista.
Tem medo, não da verdade, mas de ser apontado por ela.
Mas tudo nos aponta, e desaponta.
Chover no molhado não é redundância,
É viver sem se molhar na chuva.
Um, dois, três. Um, dois, três.
Não há mais chuva, não há mais água, não há mais cores;
Só resta o sol que não morre.
Quer ser como o sol? Faça um sacrifício.
Deixe de ter, não crie, não produza,
Não colabore com o fim, apenas comece.
O sol é feito de começos.