JOÃO BRASILEIRO
Vesti a minha melhor roupa
Tirei a xerox de todo documento
E fui procurar um emprego
Para garantir nosso sustento .
Já passava do meio-dia
E a fome me consumia por inteiro
Quando dois caras me abordaram
Perguntando pelo dinheiro .
Com uma arma na cabeça
Esperando o meu fim
Olhando bem para eles
Eu lhes disse assim :
Se vocês nunca se enganaram
Acabaram de se enganar ,
Eu não tenho nem onde cair vivo
Porque morto caio em qualquer lugar .
A minha atual situação
Direi agora mesmo para vocês ,
Sou pai de oito filhos
E o nono nasce no próximo mês .
Meu barraco é de palafita
Construído em terreno invadido .
Não durmo uma noite em paz
Com medo dele ser demolido .
A minha energia é um gato
E a água também é roubada .
Estou devendo as seis agiotas.
Minha vida está ameaçada .
Já vendi a nossa cama ,
A geladeira e o fogão .
Dormimos em sacos velhos
E cozinhamos no chão .
Ao ouvirem minha ladainha
Percebi que eles estavam chorando
Os dois olhavam para o céu
Como quem tivesse se desculpando .
Quando enxugavam os olhos
E resolveram ajudar a este moribundo
Uma voz grita da esquina :
- Mãos para cima vagabundo !
Os meliantes saíram correndo
E eu fiquei só esperando .
De início levei dois dias chutes nas costelas
Onde uma foi logo quebrando .
Puseram o joelho no meu rosto
Me xingando de todos os palavrões
Perguntando pelo roubo
E quem eram meus amigos ladrões .
Eu dizia que era inocente
E que não os acompanhava .
Mas quanto mais eu falava isto
Aí era que eu apanhava .
Meu Deus como eu apanhei...
Quebraram meus braços enquanto um ria
E me largaram num terreno baldio
Só para ver se eu morria .
Mesmo estando todo ensanguentado
Refleti a beira da minha morte .
Como sofre um João brasileiro ,
Negro , pobre , e sem sorte !