Eu hei de internar todo mundo que é louco

Hei de internar o poeta

Pois sua loucura é inventar amores

Hei de internar o coveiro

Pois sua loucura é reinterpretar as flores

Hei de internar o barbeiro

Pois sua loucura é tangenciar uma lâmina afiada no rosto das pessoas

Hei de internar o rei

Pois sua loucura é passar a vida equilibrando coroas

Hei de internar o jornalista

Pois sua loucura é fazer perguntas só por fazê-las

Hei de internar o astrônomo

Pois sua loucura é passar o horário comercial olhando as estrelas

Hei de internar o cozinheiro

Pois sua loucura é fazer comida para outra pessoa comer

Hei de internar o torcedor

Pois sua loucura é pagar para dar apoio ao invés de receber

Hei de internar o cineasta

Pois sua loucura é a sinestesia audiovisual

Hei de internar o agricultor

Pois sua loucura é chamar a erva de medicinal

Hei de internar o boxeador

Que agride e é agredido por um semelhante

Hei de internar o meteorologista

Pois sua loucura é prever o tempo adiante

Hei de internar o advogado

Pois sua loucura é defender o caso perdido

Seguindo na mesma lógica

Hei de internar o cupido

Hei de internar o sambista

Pois sua loucura é estar feliz e sorrindo a toda hora

Hei de internar o padre

Pois sua loucura é fazer Nossa a Sua Senhora

Hei de internar Simão Bacamarte

Pois sua loucura é se dizer médico

Hei de internar o psiquiatra

Pois sua loucura é ler pensamentos e achar ético

Hei de internar aquele idoso na sala

Pois sua loucura é ficar sentado o dia todo na cadeira

Hei de internar esta mulher de branco

Pois sua loucura é achar que é enfermeira

Hei de internar o farmacêutico

Pois sua loucura é tentar me drogar pouco a pouco

Hei de internar este homem que escreve por mim

Pois sua loucura é internar todo mundo que é louco