Contramão

Eu ficava tonto. Mesmo lento, o carrossel da vida me deixava enjoado, indisposto, monótono.

Havia sim momentos de luz e magia e os olhos se enchiam de beleza. Cada giro, mesmo estando no mesmo lugar, captava olhares extasiados com as cores vivas do meu corcel.

A vida girava e eu desbotava na mesma proporção. Eu produzia alegria, isto era fato. Os que se aproximavam sentiam leveza no espírito e por instantes, que o relógio não podia captar, bailavam num para cima e para baixo nostálgico, mas extremamente apaziguador.

Findava dia, findava noite eu me encontrava lá, sempre aposto para acolher vidas necessitadas de um momento lúdico. Mas o destino era o mesmo para todos nós. Produzir encanto e ilusão até que as cores não fossem mais vistosas e nem rangesse mais as articulações. Substituições sempre aconteciam.

Pois bem, o carrossel continua girando. Minhas cores não são mais as mesmas e eu não tive opção. Decidi girar na contramão. Aqui no meio do nada não há música e nem holofotes. Não há tanta ilusão. Mas há cheiro de brisa fresca e ela dá brilho ao meu corcel.

Na contramão há sempre vazios, caminhos distintos e muita opção. A vida gira mais lenta e o enjoo tem menos incisão. Quem se achega ainda encontra vida e se encanta com minha própria canção.

Sou corcel gasto pelo tempo e decidi ir pela contramão.