Itinerário

A estrada que percorro é o meu quinhão hereditário,

nela esbarro em vultos sinuosos escondidos atrás de arbustos e quinquilharias jogadas a esmo,

Nela contemplo o semblante triste de sonhos desamparados por uma desesperança momentânea,

Nela revivo o fulgor de paixões humanas insensatas que culminaram em corações partidos e etilismo,

Nela me perco na confusão de pensamentos que me agarram pela cintura e oferecem uma última dança,

Nela arrependo-me de ser quem sou longe de você,

Nela sento-me no parapeito da janela da sala de estar e suicido minhas utopias favoritas,

Nela esqueço-me de permanecer respirando e me afogo no abismo de ser ninguém,

Nela fico inerte sobre uma pilha de coisas que não sei o nome direito,

Nela eu espio pela fresta da vida com medo de que as visitas me vejam de alma despenteada,

Nela sou oprimida por paredes de incertezas que repelem minhas memórias por orifícios nada estratégicos e se recusam a me amparar para assim aliviar a fadiga de pés que peregrinaram vida a dentro.