LEITO

À beira do riacho

Assento-me e contemplo

A vida que passa

Célere remanso

Enquanto eu permaneço

Presa à margem

Ainda sou a mesma

Mas ao mesmo tempo, outra.

No espelho das águas

Vejo o passar dos anos

As ondas como rugas

Turvam meu vigor

As rugas como ondas

Roubam-me a juventude

É tanto leito

Mas ao mesmo tempo, pouco.

O tempo remanso

Invade-me, arrebata-me

Em ondas que lavam

E levam meus passos

Para margens distantes

Margem/jornada, leito/destino

Morre no oceano

Mas ao mesmo tempo, vive.