SONETO DA SORTE
Longe das desculpas,
Tentando evitar algumas rugas,
Mas sem um mapa se perde nas ruas,
Que conduzem tantas almas nuas.
O rei deste espelho sou eu,
Um velho corpo açoitado que não morreu,
A história de um trono plebeu,
Que a luz da esperança concebeu.
Espelho, espelho meu,
Existe no mundo alma tão frágil,
Que no mar mais agitado não pereceu?
São essas cicatrizes o troféu de quem venceu?
Alguns ouviram o soneto de minha sorte,
Achando que era a canção de minha morte,
E eu resisti querendo entregar tudo,
Gritando por dentro enquanto os lábios ficavam mudos.
E longe das desculpas,
Em sangue minhas flores reguei,
E o espelho insistia que o plebeu era rei,
Porque mesmo a noite forçando a queda, de dia me levantei.
As ruas serão sempre inseguras,
Sem mapa para um amanhã,
Mas a alma se revestiu de insistência,
Ignorando as letras da lei do erro e sua penitência.
Espelho, espelho meu,
Existe no mundo alma tão frágil,
Que no mar mais agitado não pereceu?
São essas cicatrizes o troféu de quem venceu?
E minha sorte cantou um soneto,
E fiz dos meus sonhos um amuleto,
O olhar doce carregava o segredo,
De quem conheceu a morte, mas ressuscitou no auge do medo.
E longe das desculpas,
Em sangue minhas flores reguei,
Tão logo um jardim floresceu,
Nas cores que meu ser recebeu.