Pedra no caminho
Homem levante-te
O mundo ainda tem cor
Mesmo no âmago sofrido
Das ruas acinzentadas
Mesmo com o frio perturbante
Das noites vazias
Em que tu dormes
Sob um papelão
Sem família, sem o pão
Sendo seus únicos companheiros
Um cão e um carrinho de mão
A fome bate, eu sei
As pessoas não te olham
As sombras te perseguem
E no teu caminho as pedras lhe padecem
A sua loucura já não é mais aceita
Militares nas calçadas chutam
As tuas “tralhas”
Te humilham, te chamam de nada
Teu sangue derramas sob a guia
Turistas passam e não te dão a mínima
Acorde! Acorde! Homem, você pode me ouvir?
O mundo ainda tem cor, levanta-te
Estás agora desacordado homem
E teu cão ao seu lado
Seu único amigo
Nem mesmo o resgate veio te socorrer
Já que consideram o teu caso perdido
Um a menos para o Governo
Mais um indigente no caixão
Tanta gente passando ao teu lado
E ninguém te estende a mão
Homem acorde! Acorde!
Não deixe que o sistema te mate
Acorde! Acorde!
Tu não respiras mais
Talvez o mundo seja mesmo frio
E as pessoas vazias
O céu escurece
Tempestade! Apagam-se as cores da cidade
As sombras se alargam pelos centros
As viaturas se vão, silencio nos becos
Há homens que se salvaram
Esconderam-se em bueiros e construções antigas
Outros ainda serão alvos da milícia
O luto não é apenas pelo homem
Mas pela injustiça que mata todos os dias
Pela falta de empatia, pela frieza
Pela falta de alimento na mesa
O luto é pelas sombras
Pelo cinza negro das cidades
Pelas calçadas ensanguentadas
Pela desigualdade social
Um indigente morto
É só mais um para o irracional
Mas um dia ele foi uma criança e teve sonhos
E hoje ele é só mais um morto.