Animal
Caeiro, se todo dia, alivia a vida?
Ontem dei-me parábolas,
Hoje, ósculo em maestria.
Para aliviar a vida, preciso de poesia?
Descobri dia desses outro modo,
Um animal nada frívolo, mas mórbido,
E no caminho que se seguiu,
Verteu em sangue o próprio trauma!
Carne, mais carne que poetas mortos,
Mas era vivo, maltratou-me a inteligência,
Rompeu-me das virtudes, nada calmas,
Fez-me carnal.
É da subjetividade que faço versos?
Não, os faço dos braços, cabeças e pernas,
Os faço do suor, os faço doutros versos,
Que falam ainda mais de braços, cabeças e pernas,
Da juventude, do enrosco vivo dos cardumes,
Falo de tornar-me animal.