Animal

Caeiro, se todo dia, alivia a vida?

Ontem dei-me parábolas,

Hoje, ósculo em maestria.

Para aliviar a vida, preciso de poesia?

Descobri dia desses outro modo,

Um animal nada frívolo, mas mórbido,

E no caminho que se seguiu,

Verteu em sangue o próprio trauma!

Carne, mais carne que poetas mortos,

Mas era vivo, maltratou-me a inteligência,

Rompeu-me das virtudes, nada calmas,

Fez-me carnal.

É da subjetividade que faço versos?

Não, os faço dos braços, cabeças e pernas,

Os faço do suor, os faço doutros versos,

Que falam ainda mais de braços, cabeças e pernas,

Da juventude, do enrosco vivo dos cardumes,

Falo de tornar-me animal.

Carolina Maria Souza
Enviado por Carolina Maria Souza em 01/07/2019
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