Mariana
Corre lama em sangue condenado
És o fruto da escravidão que ainda impera
Rompe, rasga, destrói
Em pesadelo o sonho se perde
Nem homem, nem fera, nem mesmo a flora resiste
Um mar em lama. Foras Mariana,
Agora, museu calcificado
De irresponsáveis delírios da glória.
Fruto escarrado do capitalismo insano,
Não há responsáveis, não há punição!
Foras Mariana, do turismo, da pesca,
Da vida simples, da risada caipira.
Onde está seu passado, sua lembrança?
Senão enterrados junto aqueles que a construíram!
Desconfigurada paisagem calada decepção,
O capitalismo ainda supera,
Regras, poderes e sanções.
Mas, ainda és minha terra.
De terra coberta em lágrimas e lamentos,
Mudaram sua rota em definitivo.
Viver abraçar, sorrir seu simples colorido,
aqui, jaz Mariana, Terra sem sentido.
Vida sem destino, em lamaçal em tragédia,
A que dará a voz em bandeira hasteada?
Se não desvincula os grilhões que a pesam.
Não caminhas mais à liberdade que um dia
Por capricho lhe fora tirada.
Rio doce, quanto Será amargo suas águas
Mata atlântica devastada, espécies extintas
Quanto vale as lágrimas despejadas em seu leito
Irreversíveis destinos em caos
Agora apenas eco do sistema dilacerado
Rola a lama fria nos corações incandescentes
Fome, miséria, colapso de vida soterradas
Onde estão os peixes, as lontras, as garças e as capivaras?
Cadê o pato do mato, as praças, as crianças e as gargalhadas?
Segue a lama vagarosamente numa tortura que não me encerra.
Gritar já não posso, em que me adianta chorar...
Nem coração nem ventre, o dinheiro é vida.
A dívida em perdão se alastra,
Na corrente que mais uma vez mariana devasta,
Infortuno dólares a lembrança apaga,
Apaga a vida, agora em lama estagnada.
Petrifica a dignidade da história a herança,
Consolida o poder forma impregnada,
Não moves mais a lama, inerte consolidada.
Agora realça em nova paisagem.
Mariana submersa em desejos e ódios
Em pensamento que se desgasta ao infinito.