Ninguém escolhe a Dor

Ao esplendor e mistério de toda existência,

Em sua mais pura essência,

Existe algo maior que a ciência,

A infinita e humana jurisprudência.

Nome que nunca muda e é imutável,

Não existe sentimento variável,

Existência viável,

Mas que tem propósito inquestionável.

A dor,

A pura dor,

Ninguém nasceu para gozar desse sentimento,

Desgosta a qualquer momento,

É força desumana que corrói e traz repulsa,

Gera desgostoso que te impulsa.

De um pinico no dedo a um pulso quebrado,

Da perda de um sentido ao osso congelado,

A vida sai mas não desiste,

A dor é forte e insiste,

Àquele que não a quer,

Faz querer,

Pois se torna prazer,

Ou te faz morrer.

Essa é a dor, prazer,

Que difere de qualquer prazer,

Mas se a dor te atrai e faz querer,

Adaptou ao seu ser.

Ninguém nasceu para agonizar,

Para rasgar o beiço para segurar,

Instantaneamente faz o corpo recuar,

Foi feito por limite a sua vivência,

Não traz nenhuma dependência,

E ela vem com pura onisciência,

Não some mesmo implorando clemência.

Quando a dor não for mais dor,

E alguém viver por tal existência angustiada,

A experiencia se torna tão vaga,

Que a dor para,

Até conhecer um novo limite sensorial,

Fazendo com que crie um medo ancestral.

Não torna superior,

Nem faz querer continuar,

Pois é dor,

E ninguém quer vivenciar.

Te torna mais profundo,

Pois te leva a agonia em seu fundo,

Para que transcenda ao familiar,

Impedindo-o de vivenciar.

Mas quando se acostuma com a dor,

Ela deixa de ser quem uma vez se instaurou,

Se não se incomoda com pele em ardor,

Sua concepção mudou.

Ninguém procura,

Ninguém atura,

Ninguém atua,

E não é só sua.

Mas toda dor é por enquanto,

Enquanto aguentar,

Enquanto se renovar,

Até nos matar.

A dor,

É a dor,

Em ansiedade ou medo,

Só muda o preceito.

Difere entre não querer morrer,

Estar morto por dentro,

Achar que morrer cessa o sofrer,

E até onde me contento.

A dor,

As vezes esvai,

Volta e vai,

Nunca acaba a dor.

Existe a dor de um futuro desconhecido,

A dor de um passado infeliz,

O presente que não condiz,

E aquela que não se diz.

Ninguém nunca escolhe doer,

Ela aparece sem bater na porta,

Mas é opcional sofrer,

Mesmo sem mostrar, a gente se importa.

A dor existe e sempre existirá,

Ninguém faz com que se vá,

Mas alguém nunca a escolheu,

E se escolhe é porque não é mais dor,

Pois há nojo maior a se viver,

E dor suficiente para não querer morrer.

Mas em meio de tanta dor,

Com toda sua voz e cor,

Faz a gente querer viver,

Significa que existe prazer.

Ninguém escolherá a dor,

A não que exista dor maior,

Depende do anterior,

E do posterior.

Existe em carne ou na mente,

Difere-se constantemente,

As vezes instantaneamente,

Ou até mesmo permanente,

Até onde o para sempre permite na nossa finidade,

Cria-se afinidade,

Mas ao acolher,

Não é mais sofrer,

Então não é mais dor,

Somente há o conhecer.

A dor,

É sempre a dor,

Viva como for,

Ela é como o respirar,

E todos ainda vivem,

Só gostam aqueles que não vivem mais,

Pois nunca voltarão para contar o gozo, jamais.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 24/06/2019
Código do texto: T6680155
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