Sombras
Certa vez vi um homem
Sentado em um pequeno banco de madeira
Ele mantinha a cabeça baixa
Eu não sabia o que ele via
E suas pernas tremiam levemente
Para dentro e para fora
Como se não houvesse outra coisa a fazer
Seus dedos estavam entrelaçados
Como o de um homem que espera
Apenas o abraço da morte
Seus olhos eram sombras
Como os de um homem que espera
Apenas o abraço da morte
Não havia lágrimas
Não havia gritos de desespero
Apenas um homem curvado
Diante do peso da própria sina
Talvez cansado de reviver momentos
Vazios e insatisfatórios
Ele estava bem arrumado
Os cabelos penteados
Barba feita
Suas roupas eram belas e de belas cores
Mas havia cansaço demais em seus movimentos
E o silêncio
E as pernas
E as mãos entrelaçadas
E esse foi o momento no qual percebi
O quanto eu estava com medo
E como eu queria vê-lo levantar a cabeça e sorrir
Dizer-me as coisas agradáveis e até mesmo bobas
Como costumava fazer
Mas nada disso aconteceu
Apenas o silêncio
Apenas as pernas
As mãos entrelaçadas
Eu estava assustado e foi minha vez de tremer
Pois o homem que se curvava diante das sombras
Dentro de si mesmo
Era ele