Ciclo
Estou com medo de voltar a amar
E se tudo se repetir?
E se eu voltar a me machucar?
Não quero reviver momentos tão sombrios
Em que eu não conseguia expressar um simples sorriso
Em que eu questionava repetidamente o sentido
De continuar vivo, deprimido.
Eu tenho medo de voltar a confiar
E se tudo se repetir?
E se eu voltar a me enganar?
Não quero reviver lágrimas, dias a chorar
Por uma pessoa que mentiu, que me deixou sem avisar.
Tenho muitas memórias que justificam a minha desconfiança
Mas, curiosamente, nunca cheguei a comprar alianças
Hoje, entretanto, elas não contêm significância
A traição se tornou tão padronizada,
Tão bem orquestrada, utilizada,
Que sei que eu acabarei participando do seu ato
Sei disso, não por descaso, sim por ser um fato.
Não quero beijar uma boca que não me anseia
Não quero escrever dedicatórias para portadoras de impurezas
Quero poetizar, mas para uma princesa
Ou uma camponesa, fora da realeza
Quero dizer que amo, atropelando o engano
Quero olhar no fundo dos olhos sem medo do abandono.