Que meu velho avô dizia.

Eu nunca compreendi direito

O conceito

Dessa nova engenharia

Que constrói monumentos

de alegria e felicidade

A cada dia mais arrojada

E que, a mim, não prova nada

Só me lembro

Que meu velho avô dizia

Coisas sobre um mundo arcaico

Num tempo em que só carecia

De uma pequena porção

de amor e lealdade

E em poucas e prosaicas proporções

Amizades e outras velharias

Que, não obstante, seriam suficientes

Ele me olhava com o olhar fraterno

e, apesar de melancólico, dizia

Que a ordem do tempo é imutável

Pra tristeza ou pra alegria

Insistia que a vida não eram só momentos

E citava outras palavras, hoje desconhecidas

Sobre bondades que jamais eu vi

Talvez seja culpa da vida, porque ela é feita de tempo

Onde a culpa cabe ao tempo, por ter sido algo abstrato

Mais importante que a própria vida

É ter alguém pra botar a culpa

Fora isso, o tempo não se compromete

Nem possui o compromisso tolo de apartar

As coisas que ora se sente

Daquelas que outrora sentia

A verdade é um gás rarefeito

Ela explode, quando se acumula

Essa é uma lei natural

Que, sutilmente rege a vida.

O perfume da flor varia

E mesmo assim

Não se muda em essência

Por causa da ocasião

Portanto

O conceito de felicidade permanece

Eternamente algo abstrato

Jamais objeto

A ser trocado em feira de momentos

Por outras felicidades

Nem se pode vê-la exposta

No museu da simplicidade

A inverdade pode ser um céu

Que desaba por sobre o telhado

E o teto por sobre o chão

É uma casa de pau a pique

e o ás de qualquer baralho

Nas mãos de outro jogador, na mesa ao lado

A alegria é um anjo frágil

Um pássaro no galho

Que, quando maltratado, bate as asas

E não há nada a se fazer pra que ela fique.

Edson Ricardo Paiva.