SÃO JORGE

(I)

Quem manda em mim

Sou eu

Sempre vai ser assim

O que é meu é meu

O que é teu é teu

No fundo eu sei que posso

E também podemos fazer tudo ser nosso

Chega de trabalhar no campo e castelo

Chega de viver do farelo dos outros

Vamos trabalhar para nós mesmos

Desenterrar tesouros

Parar de se alimentar de besouros

Encontrar o que está perdido

Um caminho e um amigo

Um código tão antigo

A terra que eu vivo é tão bela

Mas estão estragando ela

As florestas eu já não vejo mais

A fumaça toma conta do céu

Que de noite tinha estrelas

A beleza da natureza está desaparecendo

E o que estamos fazendo?

(II)

Faço o sinal da cruz e encolho os ombros

Para não ser queimado na praça

Se eu não for como os outros

Jamais vou alcançar tal graça

Sou apenas um pecador

Mas tenho a virtude do amor

Eu quero é pão e a liberdade

Para poder sair a noite pela cidade

Não sou escravo e sim homem livre

Não há documento que ateste

A liberdade existe

De leste a oeste

Sou ouro

Tão puro e precioso

Sou prata

Talvez eu seja nada

Sou o metal

Sei que sou um mero mortal

Sou o bronze

Eu sou nada alem de um homem

Sou o ferro

Que enferruja e fica cego

Sou o pó da terra

Sou filho da paz e neto da guerra

Sou um tudo

Mas para todos eu sou nada

Não passo de sucata

(III)

Por muito tempo acreditei em quem não devia

Achei que haveria tanto amor e paz todos os dias

Eu te dei uma chance e você não mereceu

Não cumpriu o que prometeu

Achei que tudo sairia bem

Acreditei em quem não devia

Acreditei em promessas não cumpridas

Em palavras jogadas ao vento

Palavras ditas por serem ditas

E se o dragão engolisse quem me mentiu

Tudo seria melhor

O bafo quente e úmido do dragão

Corresponde a minha insatisfação e dor

É um reflexo da dor de todos

O homem na cruz machucado

Carregou isso uma vez

Ele quer que este seja meu fardo

Carregar a dor do mundo

Por que escolheu a mim

Um mero vagabundo?

O ovo de ouro

Foi botado pela galinha

Roubada pelos soldados reais

E o que sobrou para minha família

O que vamos ter de comida

E o descaso com os velhos e as crianças

Vai ser mudado algum dia por algo melhor

Ainda há de haver esperança

Enquanto o pessoal no castelo

Faz comilança e dança

Vivemos na miséria comendo de farelo

Deus que me perdoe

Mas já pensei em tanta loucura

O que podemos fazer para matar a fome

Que está se tornando uma tortura

O dinheiro não da para comer

É tanta coisa para pagar

As vezes da vontade de morrer

Pra que tanto trabalho honesto se no fim vão nos roubar

O que podemos fazer?

(IV)

Chega disso por hora

Quero ir encontrar minha donzela

Quero ser feliz a partir de agora

Vou casar e ter filhos com ela

Para eles me ajudarem a melhorar tudo

Afinal, não posso sozinho mudar o mundo

Mas se todos ajudarem a verdade se tornar realidade

Afinal, a nós pertence o futuro

E não a quem transforma nossos dias tão escuros

Amanhã vamos rir disso

Porque hoje tudo vai melhorar

E sei, é nisso que eu acredito

Ainda haverá um motivo para sonhar

O dia que vai chegar será tão lindo

Os lírios do campo vão banhar

Toda a minha visão

Apagando a cena de miséria que aprendi a enxergar

E o amor e a paz vão surgir

Como o sol detrás das montanhas e as flores nos campos

Da primavera que está a vir

E a partir de agora um novo mundo vai começando

E a esperança vem a cavalo por aí

Em lentos passos ela vem chegando

Mauricio Rocha
Enviado por Mauricio Rocha em 02/05/2019
Código do texto: T6637131
Classificação de conteúdo: seguro