Nada sei.
Sou analfabeto
Minhas mãos não escrevem letras
Letras nunca escrevi
Não porque não quis, até quis
Mas não consigo
Acho que não consigo
Construí casas
Construí prédios
Construí tudo com essas mãos
E aqui com essas mãos construí
Muitos arquitetos, doutores
Sempre me perguntavam
Como fazer determinadas linhas
Se ali poderia fazer
Não sei, eu lia, tentava ler o que eles escreviam
E não entendia
Mas quando eu falava eles entendiam
Só assim nos entendíamos
Mas não sei ler, nunca escrevi
Nunca aprendi
Talvez... não sei
Mas o que vejo
É que todos que não constroem
Ou todos que constroem
São analfabetos na sua maneira
Uns analfabetos por não ler
Outros porque só sabem escrever.