Gaiolas e Viveiros
Entoo triste
0 choro em forma de canto
Silencio-me no poleiro
De gaiolas ou viveiros
Com sofreguidão,
Envergonhado,
Silente e maltratado
Quem disse?
Eh, sabiá, quem disse, mente
Que o cárcere é seu lugar
Só não disse a dor que dá
Quem isso disse, certamente
Nunca ouviu o seu chorar:
-Tô aqui, tô aqui, aqui pra cantar
-Tô com calor, tô com calor
-Bem-te-vi, bem-te-vizinho
Canta na escuridão
Da madrugada despertada
Um gorjeia: -bem te vi !
0 outro: -também te vi !
Também te vi! -Responde!
Chamando a atenção
0 que está preso quer fugir
E o que está solto se esconde
Da fechadura e da prisão
Cai um inocente na arapuca
Na busca do grão e do farelo
É o canarinho amarelo
Que vira réu lá no viveiro
Só com água e alpiste
Na solidão do cativeiro
Cativo
Muda suas penas
Treina feito um soldado
E canta forte pra avisar,
Que a ratoeira tá armada
Pra outras aves ferrar
E passar a vida inteira
Na dor e na saudade
À espera da morte pra se libertar.