Gaiolas e Viveiros

Entoo triste

0 choro em forma de canto

Silencio-me no poleiro

De gaiolas ou viveiros

Com sofreguidão,

Envergonhado,

Silente e maltratado

Quem disse?

Eh, sabiá, quem disse, mente

Que o cárcere é seu lugar

Só não disse a dor que dá

Quem isso disse, certamente

Nunca ouviu o seu chorar:

-Tô aqui, tô aqui, aqui pra cantar

-Tô com calor, tô com calor

-Bem-te-vi, bem-te-vizinho

Canta na escuridão

Da madrugada despertada

Um gorjeia: -bem te vi !

0 outro: -também te vi !

Também te vi! -Responde!

Chamando a atenção

0 que está preso quer fugir

E o que está solto se esconde

Da fechadura e da prisão

Cai um inocente na arapuca

Na busca do grão e do farelo

É o canarinho amarelo

Que vira réu lá no viveiro

Só com água e alpiste

Na solidão do cativeiro

Cativo

Muda suas penas

Treina feito um soldado

E canta forte pra avisar,

Que a ratoeira tá armada

Pra outras aves ferrar

E passar a vida inteira

Na dor e na saudade

À espera da morte pra se libertar.

Sangy
Enviado por Sangy em 18/04/2019
Reeditado em 29/04/2019
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