Umbigos divergentes
A panela vazia
O bolso esvaziado
0 umbigo cruel e irônico
Rindo da própria mazela,
Um lampejo de amor
No último olhar profundo;
Profunda dor
Profunda miséria
Avistada de uma janela insólita.
A panela vazia maculou o silêncio
Tantas vezes desaforando políticas
Enquanto um infeliz rebento
Perambulava as calçadas frias.
Um umbigo cruel e irônico
Prevalecia na janela "clean"
E a calçada suja,
Ângulos opostos de umbigos divergentes.
Na torre ímpar entre outras pares
Uma varanda ampla e arborizada
Uma beleza incompleta
Faltava-lhe humanidade,
Vistes o corpo franzino esmolando migalhas?
Na calçada de pedras bonitas
Respinga do alto uma ignóbil frieza,
O umbigo cruel e irônico
Chafurdava sobre a pobreza
E a visão da favela ao derredor,
A janela perfumada,
Jasmim, lavanda, nobres charutos,
Odores diversos,
Conversas frias, gélidas reações.