Sempre mais do mesmo
 

Me vejo ali,
Na esquina da vida,
Com inúmeras ruelas que não me levam a lugar algum.
E o olhar fixo no meu desejo de mudar os passos.
 
Ali, por um segundo fecho os olhos.
Sinto o ar pesado das escolhas que fiz.
E por instantes não consigo pensar em nada, além de mim.
 
Há algum som no ar.
Seria minha canção preferida?
Seria o grito de um outro no qual projetei o meu?
Ou seria o silêncio da transformação.
 
A luz do poste acima dos meus cabelos
Projeta a sombra de um eu que não conheço.
Um eu tão perto de mim e tão distante.
É sombra inabitada.
 
Os carros que trafegam
Levam almas sedentas de amor.
No frenesi do asfalto, não se dão conta do meu olhar observador.
Seria eu a preencher estas almas ou o contemplado?
 
Observo, por fim, o muro rabiscado à minha frente.
Imagino-o todo branco.
Ao centro a frase que dá nome a este poema.
“Sempre mais do mesmo”.
Ponto final.