Duas cantigas para a sexta-feira depois da chuva
Duas cantigas para a sexta-feira depois da chuva.
Por Agamenon Viana
Canto I
A água é uma cobra
Que cai rola e se desdobra
Virando lagoa e rio
Deixando no céu um vazio
Em fuga de pingos-feixes
Vem dar vida a vegetais
Matar sede de animais
E ser o mundo dos peixes.
A água também é cantora
Pode ser demolidora
É cascata e é fonte
Vira marola gigante
E atoleiro de morte
É regato inocente
Vira salmoura inclemente
Que dá vida e traz morte
Canto II
Canto pois...
Quem canta seus males espanta
Quem vive se exercita,
E a vida, por ora, está bonita...
Será a sorte desdita?
Não, creio na virtude santa!
E morrer de que adianta!
Mesmo sendo por amor!
Ora, faça-me o favor
Ninguém morre, se encanta!
A beleza está na terra
Dentro do vale, na serra...
Uma Iara* me acalanta
E muito tem me inspirado
E nesse tempo sou levado
A cantar como quem planta!
*Sereia dos rios de água doce.