UM SALTO NO ESCURO
(Os mortos que sobreviveram)
Mãos para trás,
pulsos apertados em algemas de gesso.
Frio estomacal,
qual paraquedista neófito.
. . .
Impelido sem oferecer resistência,
flutuei no ar.
Torturante giro no escurejar das trevas.
. . .
Enfim, sós !
Eu, em descenso vertical,
e o meu algoz,
que seguiu planeando na horizontal.
Formaram uma cruz nossas coordenadas.
. . .
Ninguém escutou meus derradeiros gritos,
dispersos no silêncio do infinito:
"Liberdade, liberdade ! . . ."
“Independência ou Morte ! . . .”
. . .
Morte ? ! . . .
Indolência, languidez. . .
Talvez ! . . .
Corpo e alma na última queda em vida.
. . .
Foi o meu pensar
no ligeiro instante
antes
do mergulhar profundo
num ondeado e gélido mar bravio.
. . .
A escuridão das águas,
a mesma do noturno céu nublado,
a mesma dos pensares militares,
subordinados.
. . .
Imaginei-me sobrenadando
em lágrimas derramadas
de tantas mães e irmãos
em esperas vãs.
. . .
Por certo,
meu corpo leve, a uma peso atado,
não ousou vaguear
nas vagas do mar revolto.
. . .
Fato consumado
? ! . . .
Virei marisco,
que ainda medra e agoniza
em meio à rebentação das ondas
e à resistência da pedra:
eterno embate ideológico
de duas forças antagônicas.
(Fernando Aquino Freire)
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pulsos apertados em algemas de gesso.
Frio estomacal,
qual paraquedista neófito.
. . .
Impelido sem oferecer resistência,
flutuei no ar.
Torturante giro no escurejar das trevas.
. . .
Enfim, sós !
Eu, em descenso vertical,
e o meu algoz,
que seguiu planeando na horizontal.
Formaram uma cruz nossas coordenadas.
. . .
Ninguém escutou meus derradeiros gritos,
dispersos no silêncio do infinito:
"Liberdade, liberdade ! . . ."
“Independência ou Morte ! . . .”
. . .
Morte ? ! . . .
Indolência, languidez. . .
Talvez ! . . .
Corpo e alma na última queda em vida.
. . .
Foi o meu pensar
no ligeiro instante
antes
do mergulhar profundo
num ondeado e gélido mar bravio.
. . .
A escuridão das águas,
a mesma do noturno céu nublado,
a mesma dos pensares militares,
subordinados.
. . .
Imaginei-me sobrenadando
em lágrimas derramadas
de tantas mães e irmãos
em esperas vãs.
. . .
Por certo,
meu corpo leve, a uma peso atado,
não ousou vaguear
nas vagas do mar revolto.
. . .
Fato consumado
? ! . . .
Virei marisco,
que ainda medra e agoniza
em meio à rebentação das ondas
e à resistência da pedra:
eterno embate ideológico
de duas forças antagônicas.
(Fernando Aquino Freire)
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