Atropelando os Outros

Cada um de nós quer ser feliz

Do jeito que der

De qualquer jeito

De qualquer forma

Atropelando os outros

Porque ninguém sabe viver

Ninguém sabe o que o ser quer

De verdade

Ninguém liga para o outro

Porque o outro não é si mesmo

E a gente explica essas coisas

De uma forma irônica

Dizendo o contrário

Da verdade

Do que a gente sente

Do que a gente sabe

Porque a gente nunca vai conhecer

Aquele neném que estava no ventre

Da mamãe que faleceu

Porque ele não nasceu

E também não morreu

Ficou lá, pairando no ar

No ar imaterial

Etérico

Na sua respiração

Que não faz vento

Não faz sombra

Não faz falta

Não tem sentido

Mas deixou um vazio

Que não era para existir

Porque, no fundo,

Isto era para ser preenchido

De nada que interessava

De tudo o que me faltava

E que ninguém percebia

E nem percebe

Porque não importa

E será que a gente

Entende alguma coisa

Da vida do outro

E que a morte é necessária?

São tantas coisas

Para não se pensar

Será que isso existe?