Venho da Senzala

Sou um poeta de alma apodrecida

Meu corpo fede a carniça.

Carrego na fala versos fetidos de uma úlcera exposta

Na língua,

caminho com os lazarento,

vale dos leprosos,

Vale dos miseráveis,

Vale dos excluidos.

Eu venho da senzala

Senzala que ficou tatuada dentro e fora de mim.

É assim, que o verso imerso no pus, me conduz.

Poderia estar, na varanda da casa de Normandia,

Naquele nincho de paz

E ouvir a 5 sinfonia de betorven

E sonhar em baixo dos laranjais

Preferi a sarjeta

Hoje recebi um pedaço de pão e sopa

E um olhar que me aqueceu o coração

Amanha não sei se o sol nascerá, será que um poeta

Recitará Clarice na esquina?

Trago 5 reais no bolso, um pedaço de tecido roto e uma naftalina

uma imagem de Maria na lembrança e a desesperança.

As meninas afetadas passaram aqui na madrugada,

Cantando um mantra,

E suas vestes diáfanas feito véu bailavam.

Tudo isso se passou

Ali, a noite se despindo

E a neblina do amanhecer descortinando o dia

Ao som da triste timbalada.

Lázaro zachariadhes
Enviado por Lázaro zachariadhes em 13/03/2019
Reeditado em 19/07/2020
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