Venho da Senzala
Sou um poeta de alma apodrecida
Meu corpo fede a carniça.
Carrego na fala versos fetidos de uma úlcera exposta
Na língua,
caminho com os lazarento,
vale dos leprosos,
Vale dos miseráveis,
Vale dos excluidos.
Eu venho da senzala
Senzala que ficou tatuada dentro e fora de mim.
É assim, que o verso imerso no pus, me conduz.
Poderia estar, na varanda da casa de Normandia,
Naquele nincho de paz
E ouvir a 5 sinfonia de betorven
E sonhar em baixo dos laranjais
Preferi a sarjeta
Hoje recebi um pedaço de pão e sopa
E um olhar que me aqueceu o coração
Amanha não sei se o sol nascerá, será que um poeta
Recitará Clarice na esquina?
Trago 5 reais no bolso, um pedaço de tecido roto e uma naftalina
uma imagem de Maria na lembrança e a desesperança.
As meninas afetadas passaram aqui na madrugada,
Cantando um mantra,
E suas vestes diáfanas feito véu bailavam.
Tudo isso se passou
Ali, a noite se despindo
E a neblina do amanhecer descortinando o dia
Ao som da triste timbalada.