Sou filho de Lampião!

Hoje acordei capeste;

Descobrir na minha certidão que sou filho de Lampião;

Virgulino de Maria;

Logo, sou do cangaço, justiceiro do nordeste.

Vou logo te DIZENO:

Não vim aqui para contar estória;

Carrego na cintura um bornal e uma peixeira de 20 polegada;

Na cabeça, um chapéu de coro de cabra;

Na jibeira, Rapadura puxa,

E no peito, um desejo de justiça cravado com o mesmo prego que crucificou Jesus na sexta.

Aqui nesta bandas a miséria aflora, a fome criou raiz;

O cão está solto;

O cão está de volta.

É melhor já ir se acostumando?!

Eu não, não me acostumo.

Para defender o único pedaço de pão que ficou na sexta;

Vou à luta, feito o meu pai.

Se esse verso, cabra, não te afeta;

Te darei um grito e vou te dizer:

Poeta tem que escrevê.

Mesmo com a mão suja de sangue;

Suja de estrume, para sentir que o verso nasce da contradição;

Ríspida da sutileza e da miséria;

Da insensatez, da humilhação que esteriliza o útero da pobreza.

O direito de pertencer a herança divina;

O poeta não tem nome;

O poeta é a sentinela

O meu desejo é usar o Aboio;

E tocar para reunir neste Sarau bendito; o

Sarau que João Lopes criou, batizado de “Encantado” pelo velho Lithos.

E dizer a esses filhos de mãe solteira que a minha peixeira está na cintura;

Se não trouxer rapadura e farinha de macaxeira, não entra.

Traga o verso afiado na guela e agradeça ao espírito do boi a oportunidade de dizer:

No Rodopiar do movimento o que ainda está encantado, mas nunca foi dito.

Lázaro zachariadhes
Enviado por Lázaro zachariadhes em 12/03/2019
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