Monólogo de Dois

TOC, TOC, TOC

Baixo, Ouço o esbordoar que vinha da porta.

-Possuía um tinido estranho-

Algo que jamais ouvirá antes;

Ignorei...

TOC, TOC, TOC.

Novamente, o som invade meu quarto.

Agora, parecia possuir um tom mais alto.

Uma potência diferente da batida anterior.

Um vibrato possível de sentir na pele... Arrepiei!

TOC, TOC, TOC..

Batem pela terceira Vez.

O quarto rodopia, numa curta fração de tempo.

A única certeza, é a de não ter certeza alguma

a não ser a do estrépito que se formava na minha cabeça.

TOC, TOC, TOC...

Foi a última algazarra que ouvi

antes de estar de volta, sentado na minha cama.

A visão ainda embaçada, ganhou foco aos poucos.

Quando menos esperei...

- OLAR! - Disse “mim para mim”

- QUE?? Mass...... COMO?

Hesitei...

Não querendo acreditar no que via,

me belisquei, como fez a menina Alice

quando se encontrou pela primeira vez no País das Maravilhas.

Era o meu País!

Ou melhor, Minha maravilha...

Eis, que na minha frente

um novo eu, se fazia presente.

Sentado, na beirada da cama;

Com os braços cruzados, parado... pensando...

O canceriano que todos diziam ser...

Que a pouco pegava-se loucamente chorando.

Agora, estranha ver, um outro eu, inerte...

Observando.

Dá-se início ao nosso monologo de dois.

Com um admirável toque-sensitivo,

Parecendo saber exatamente o que se passava

na minha conturbada mente momentânea- e sabia –

Já fomos direto pro primeiro assunto.

Amor Líquido...

Como um seriado televisivo,

Com episódios intensos, curtos e impactantes.

Um número pré-definido de emissões por temporadas

que infelizmente, acabam rápido demais.

Desconexos...

Num mundo louco e insensível,

Onde todos se fazem presentes;

Poucos são os presentes!

O resto, vem e vai.

O Laço Afrouxa....

Relembro-me que a vida é rápida demais.

Que o hoje não existe, o agora acontece e o depois pode não chegar.

Como uma irmã mais velha, que acha não dever satisfação aos outros,

Parte sem avisar e nos deixa a saudade.

Saudades...

Entramos no segundo assunto

As lágrimas, que pareciam ter abrandado,

Voltam com mais força e trazem juntos de si

Cor, cheiro, gosto, toque e tom de voz.

Recordações....

Um vazio enorme me toma.

Mesmo acompanhado de mim mesmo

sinto-me só, como jamais estive...

A dor finalmente chega.

Um passado que ainda não passou.

Nostalgia constante,

Que me fez lembrar e relembrar

tudo o que ainda não consegui

- ou não queria – esquecer.

Querer-te...

O terceiro assunto vem à tona.

Junto com ele, uma vontade ainda maior de ti.

Conectados, o eu reflexo me olha, sorri vagarosamente

e me abraça, como quem conforta.

Abraço casa...

Querer-te bem, feliz,

Sentir-te e ouvir-te.

Que queiras viver, que vás além,

Que rias, grites... que precises, e sejas precisado.

Assim como preciso...

Sinto-me cansado

- físico e psicologicamente falando –

Esgotado de tal forma, que a única vontade

É dormir e acordar somente quando tudo parecesse melhor.

Querendo manter distância do mundo

Que por muito tempo acreditei.

Vivi cheio de belas esperanças...

Superei o cinismo com um fuckyng otimismo

Pronto para recomeçar!

Estava agora, com a alma dolorida...

Vagando desesperadamente,

Buscando por harmonia.

Os ideais otimistas tão próximos,

Pareciam agora intangíveis e ilógicos.

- TENTE DE NOVO!

Depois de muito, só despejar

finalmente meu outro eu resolveu falar.

Me calei...

Sem premeditar as palavras que ouviria.

As Verdades...

Capaz de dar mais amor...

Mais esperança...

Mais paixão...

Fazendo o nascer do sol, acontecer mais rápido.

As Verdades Inquestionáveis...

Sobre ser natural se sentir cansado e chateado;

Sobre não ser obrigatório estar inspirado todos os dias;

Sobre não desistir, independentemente do tamanho do meu projeto;

E principalmente, Sobre meu maior medo: O FRACASSO!

Ser ser Imóvel...

Esgotado por estar mudando,

Fazendo muitas coisas.

Crescendo...

- Uma futura inspiração –

Aliviado...

Sinto-me mais vivo.

Como se uma gaiola interior estivesse finalmente aberta

e os corvos presos em minha mente, libertados.

- As borboletas do estômago, decidiram permanecer ali –

Concluo que o importante é não parar.

Mesmo que devagar, com calma, sem pressa.

Um hora ou outra, a famosa bad volta

E poderei me reencontrar comigo mesmo para um próximo...

Monólogo de Dois.