Alzheimer
Numa tarde bela de outono
Estávamos sentados embaixo do alpendre.
Eu e meu querido amigo de infância
conversando amenidades
quando, de repente,
ele repetiu pela terceira vez
a mesma palavra.
Em seguida pediu-me um pouco de água.
Quando cheguei com a jarra
ele, com um olhar indagativo, disse-me: 'não estou com sede'!
Fiquei apreensivo e atento.
A conversa seguia seu curso,
tendo o testemunho
da palidez da tarde nublada
cheia de encantos.
Sem nenhuma explicação
ele, pela quarta vez, perguntou-me : "que horas são?"
Eu dei a mesma resposta.
Estamos aposentados e nossas famílias estão aqui.
Neste momento,
fixei o olhar no meu amigo
e notei que havia algo de errado,
"um pouco perdido"
-Que se passa amigo?
Ele, sem hesitar, perguntou-me: "que horas são?"
Eu me afastei de forma discreta,
suspirei aquele ar do entardecer do outono
e me interroguei:" porquê?"
Enquanto as folhas caíam tímidas,
refletindo o matiz alaranjado,
arcapetando o chão;
E o vento,
obedecendo as leis, coreográfava as folhas secas que se arrastavam. O colorido da tarde se despedia. Porquê?
Que doença dolorosa e cruel
(sei que são experiências para o espírito).
Mas, é angustiante
presenciar, o seu melhor amigo
perder a memória!
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