Alzheimer

Numa tarde bela de outono

Estávamos sentados embaixo do alpendre.

Eu e meu querido amigo de infância

conversando amenidades

quando, de repente,

ele repetiu pela terceira vez

a mesma palavra.

Em seguida pediu-me um pouco de água.

Quando cheguei com a jarra

ele, com um olhar indagativo, disse-me: 'não estou com sede'!

Fiquei apreensivo e atento.

A conversa seguia seu curso,

tendo o testemunho

da palidez da tarde nublada

cheia de encantos.

 

Sem nenhuma explicação

ele, pela quarta vez, perguntou-me : "que horas são?"

Eu dei a mesma resposta.

Estamos aposentados e nossas famílias estão aqui.

Neste momento,

fixei o olhar no meu amigo

e notei que  havia algo de errado,

"um pouco perdido"

-Que se passa amigo?

Ele, sem hesitar, perguntou-me:  "que horas são?"

Eu me afastei de forma discreta,

suspirei aquele ar do entardecer do outono

e me interroguei:" porquê?"

Enquanto as folhas caíam tímidas,

refletindo o matiz alaranjado,

arcapetando o chão;

E o vento,

obedecendo as leis, coreográfava as folhas secas que se arrastavam. O colorido da tarde se despedia. Porquê?

Que doença dolorosa e cruel

(sei que são experiências para o espírito).

Mas, é angustiante

presenciar, o seu melhor amigo

perder a memória!

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Lázaro zachariadhes
Enviado por Lázaro zachariadhes em 12/03/2019
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