DORES EM CORES
Num quarto fechado virtualmente iluminado
Uma figura adentra com visível superioridade
Eis que a revelia de tudo algo a invade de súbito
E tomada por um saudosismo exacerbado ela
Relembra com cuidado o longínquo e atroz passado
Em que vivia a destilar sem pensar ou penar mil
e uns sentimentos isentos de qualquer discernimento
Nisso uma dor profunda derrubará a densa muralha e
tapará o abismo quase sem fundo diante de poucos segundos
Então em frente a seus olhos nus, profundos e oriundos
Não sei de que região do vandalismo incólume surgirá
Um rosto, um corpo, um choro, um sinal sem igual
Tal imagem trará simultaneamente desassossego e paz
de um tempo que se foi, que faz e que não voltará mais
a partir daí um ponte imaginária o levará numa viagem
na qual caos e bonança estarão formando um vendaval
onde finalmente se verá o valor real do que fora perdido
durante esses segundos o quarto começará a escurecer
e uma sombra monstruosa crescerá do nada, do vazio, do frio,
seguidamente a figura ficará encurralada a mercê de si mesma
e ela só conseguirá ouvir do recôndito menor da mente
um soluçar... um olhar... não me olha assim, um apelo e
na boca virá a tona o gosto do nosso último doce beijo
nessa mesma boca um grito será lançado em vão e
do doído coração virá a resposta através de uma certeza
de jamais voltar a rever o amor que tanto fez sofrer.