DORES EM CORES

Num quarto fechado virtualmente iluminado

Uma figura adentra com visível superioridade

Eis que a revelia de tudo algo a invade de súbito

E tomada por um saudosismo exacerbado ela

Relembra com cuidado o longínquo e atroz passado

Em que vivia a destilar sem pensar ou penar mil

e uns sentimentos isentos de qualquer discernimento

Nisso uma dor profunda derrubará a densa muralha e

tapará o abismo quase sem fundo diante de poucos segundos

Então em frente a seus olhos nus, profundos e oriundos

Não sei de que região do vandalismo incólume surgirá

Um rosto, um corpo, um choro, um sinal sem igual

Tal imagem trará simultaneamente desassossego e paz

de um tempo que se foi, que faz e que não voltará mais

a partir daí um ponte imaginária o levará numa viagem

na qual caos e bonança estarão formando um vendaval

onde finalmente se verá o valor real do que fora perdido

durante esses segundos o quarto começará a escurecer

e uma sombra monstruosa crescerá do nada, do vazio, do frio,

seguidamente a figura ficará encurralada a mercê de si mesma

e ela só conseguirá ouvir do recôndito menor da mente

um soluçar... um olhar... não me olha assim, um apelo e

na boca virá a tona o gosto do nosso último doce beijo

nessa mesma boca um grito será lançado em vão e

do doído coração virá a resposta através de uma certeza

de jamais voltar a rever o amor que tanto fez sofrer.

Zaymond Zarondy
Enviado por Zaymond Zarondy em 03/03/2019
Reeditado em 05/03/2019
Código do texto: T6588719
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