INCOERÊNCIA
 
 
Meus pensamentos vêm soltos
Como o vento que sopra, o sol que aquece
Não ando em linha reta, gosto das curvas
Afasto-me da mesmice, do repetitivo
Alguns me chamam incoerente
Outros dizem que sou fechada, careta
 
As pessoas gostam de adjetivos
Porque eles enfeitam palavras
Já eu, gosto de frases diretas
Sejam afirmativas ou negativas.
Que interesse há em definir o outro?
O outro é uma caixa de pandora
Dentro de casulo inviolável.
 
E se alguém tentasse meu casulo violar
 Veriam que em mim, ainda vive a menina
Alegre, travessa, cheia de vontades.
Encontro que sela a unidade
Da menina e da mulher que hoje sou
 
Diante de tanta diversidade
Vivo a desordem coerente
Que vejo nas entrelinhas
Das cobranças que a vida faz
E é minha incoerência que alerta
Que existe um anjo interior
Que me belisca pedindo cautela
Dizendo-me que a vida é mármore
Que cada um esculpe como quer
Dando-lhe forma, perfeita ou não
Usando as mãos e a mente.
Num redesenho da vida
Que exige   polimento e lixas
Para corrigir imperfeições
 
E, não havendo sintonia
 Entre o mármore duro e as mãos
Que suavemente entalha
Não importa!
Como não importa as adversidades
Da vida que carece polimento
Para expurgar o que nos faz sofrer
E, estátuas vivas revelar ao mundo
Que podemos nos transformar
Nesse escultor   que vive em nós
Que apara arestas, iguala dimensões
Harmoniza, estrutura, desestrutura
Onde espelhos expõe em rosto
Mostrando-me o andar da vida
As inconsistências, crenças, descrenças
Onde minhas dúvidas, meus medos
Se diluem de forma incoerente.