DEVORAR-VOS-EI

Não falareis de amor

Deixeis que a alma vos consuma

Lento como a pluma a cair em si

O amor é, pois o mesmo que o sono

Que a fome, que a sede, que a angústia

Que a exaustão

É eterna solidão

Frutífera necessidade

Pois coma, pois beba, pois durma

E acorde...

Enquanto isso o amor permanece

E a fome igual dá alarde

O amor que vem passa e invade

Bebo, sacio, engasgo e respiro

Na mesma vontade

É uma chama que apaga e ainda arde

Das fomes que tenho o amor está a parte

Todas dão e passam

O amor passa e não dá

Não morre, nem estanca

Não falarei de amor

Nem de nada.

Toda fome besta dá e passa

Todo infortúnio é pouco e farsa

Pra quem precisa de trama

De quem acredita que ama

Pra quem pior acredita foi rainha ou rei

Se amar não é mais que o nada

Como o camponês roubando reinos de si mesmo

Freguês da própria pobreza

Não falareis de amor

Deixe que o tempo o guarde

Antes que mais tarde

Eu vos mate!

Deixe que o tempo o guarde

Antes que mais tarde

Eu vos resguarde!

Deixe que o tempo o guarde

Antes que mais tarde

Eu o ressuscite ele me chacine!

Maria Mariane
Enviado por Maria Mariane em 01/03/2019
Código do texto: T6587181
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