DEVORAR-VOS-EI
Não falareis de amor
Deixeis que a alma vos consuma
Lento como a pluma a cair em si
O amor é, pois o mesmo que o sono
Que a fome, que a sede, que a angústia
Que a exaustão
É eterna solidão
Frutífera necessidade
Pois coma, pois beba, pois durma
E acorde...
Enquanto isso o amor permanece
E a fome igual dá alarde
O amor que vem passa e invade
Bebo, sacio, engasgo e respiro
Na mesma vontade
É uma chama que apaga e ainda arde
Das fomes que tenho o amor está a parte
Todas dão e passam
O amor passa e não dá
Não morre, nem estanca
Não falarei de amor
Nem de nada.
Toda fome besta dá e passa
Todo infortúnio é pouco e farsa
Pra quem precisa de trama
De quem acredita que ama
Pra quem pior acredita foi rainha ou rei
Se amar não é mais que o nada
Como o camponês roubando reinos de si mesmo
Freguês da própria pobreza
Não falareis de amor
Deixe que o tempo o guarde
Antes que mais tarde
Eu vos mate!
Deixe que o tempo o guarde
Antes que mais tarde
Eu vos resguarde!
Deixe que o tempo o guarde
Antes que mais tarde
Eu o ressuscite ele me chacine!