OLHO O RIO

OLHO O RIO

Olho o rio:

e vejo passar nele,

alguns poemas que nem me lembro

de os ter feito.

Mas eles passam risonhos

em cima da canoa. E me acenam,

dizendo-me que estão vivos

na memória de alguns poucos leitores.

Lembram-me que talvez

não mais existam em minha memória,

porque já os fiz por algum tempo

e os dei a quem os quis ler.

Para que rete-los, então,

na memória, se outros poemas ficam

na fila, aguardando que os escreva,

em qualquer instante

de aptidão poética?

Será que algum leitor, após os ler,

teve interesse em os reler?

Será que alguém os leu,

navegando de canoa, barco, navio,

e mesmo gostando de meus poemas,

por qualquer descuido,

os deixou cair no rio, no mar

(talvez de propósito),

mas nem por isso, deixaram de serem

lidos por algum pescador

a deriva, pela sereia, ou por espíritos

marinhos? Como vou saber,

em que circunstância existencial

os meus poemas foram lidos?

Entrementes,

importa pra mim

apenas se um punhado de gente

teve a curiosidade

de ler um poeta menor desconhecido.

Um poeta discreto,

que o que escreve,

talvez toque suavemente no coração

de alguma alma desalentada.

Toque fundo, na consciencia

que precisa edificar-se pelo amor.

Toque de modo profundo,

algum espírito que,

descrente da existência de Deus,

sinta ao ler os meus poemas:

a força da fé raciocinada,

a esperança da alma regenerada,

a alegria da vida espírita renovada,

o sonho através da alma desdobrada,

a precisão da alma estar reencarnada,

o incessante evoluir do espírito eterno.

Escritor Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 14/02/2019
Código do texto: T6574561
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