QUERENDO VOCÊ OU NÃO
O sol parece manso
no inverno
para meus olhos
pouco discretos.
Enquanto os raios trovejam,
chove em meu rosto
a água salgada
daquela lágrima corrida
na última esquina,
enquanto eu via você
surpresa ao me ouvir
falando coisas incomuns.
Mas incomum é
esse véu no seu rosto,
esse véu que se rasga
pelo mover ascendente
de seus cílios,
pelo tremer evidente
de seus lábios.
Querendo você ou não,
a verdade ninguém sabe,
mas é possível sentir o ar
invadindo suas narinas,
fazendo inéditas suas rotinas,
aconchegando a relva
junto a seus pés,
lapidando cruezas
em prazeres sutis.
Querendo você ou não,
tudo tem um sentido
supremo e definitivo,
da frieza da rocha
ao calor do pássaro,
da luz da estrela
ao movimento da maré,
da pulsação da sua veia
ao infinito do céu.
Querendo você ou não,
um detalhe muda uma imagem,
uma palavra muda um discurso,
um gesto muda uma ação.
Querendo você ou não,
uma nota muda uma música,
um passo muda um caminho,
um olhar mudo é uma revelação.
Querendo você ou não,
as feridas fecham
e são esquecidas
pois não existe noite sem dia,
não existe beco sem saída,
não existe praça sem um realejo
que lhe convide a tentar a sorte
de conhecer a vida.