A Pipa
A pipa, então presa à linha e em seu nó,
Denuncia seu cabresto voando ao léu
E palpita ao vento:
- 0lha! 0utras pipas vivas entre nós
- E o vento assanhado nem se toca
Sopra as pipas ensandecido pelo sol
E cruza as pipas virgens lá no céu
- Bailo e abdico da minha liberdade
Para encantar crianças e jovens
E dibicar minha ginástica rítmica
Até a corda rebentar e acabar o nó
Agora, cortada e solta, dou-me conta
Que minha beleza é estar presa
Ao cair, flutuo, danço e desço adoidada
Faço curvas alongadas, agoniada
Querendo à linha prender-me pelo nó
Reclamo ao vento outra vez em vão
Sentia-me feliz naquela prisão
Bailando de mão em mão
Vôo agora livre do cabresto
E outra pipa quer me aparar antes do chão
Caio livre das linhas mas presa na vontade
De ensinar, lá do azul do céu, outros jovens
E de incentivar, aqui na Terra, as crianças
A dançarem em liberdade sem dó
Soltas da linha, do cabresto e do nó.