Assustamento

Era só um menino...

Estava com uma

arma na mão

em frente da sua casa,

no portão.

Conversava com outro menino

e com uma menina.

Estufava o peito e ria!

Fazia mesuras,

apontava a arma pra

menina,

pro menino, não.

Ria e apertava o gatilho.

O que saía, não sei não,

mas a menina mudava de lado,

desconfortável:

- Para com isto! Que chateação!

Ele não parava:

empoderado,

insistente,

ria e apontava a arma

só pra menina,

pro menino, não!

Mas era tudo brincadeira!

A arma era maneira,

só de matar passarinho!

Matar bichinho,

"que é que tem", né?

Era um menino que ria,

uma menina acuada

e outro menino que fingia

que nada de mal, ali havia.

Crianças! Três crianças

reproduzindo com maestria

o mundo, os valores,

atitudes dos adultos:

um exercitando poder;

outra, a submissão

e o outro, a alienação.

Parei e olhei nos olhos deles.

Olhei fundo.

O menino com a arma na mão

não se envergonhou,

sustentou!

Havia um vazio, ali.

A menina baixou a cabeça.

Havia medo.

O outro menino lavou as mãos

e se afastou.

Havia indiferença.

Em seguida,

o grupo dispersou.

Meu coração,

tamanho assustamento,

acelerou, inquietou;

meu pelo, arrepiou!

Lamento tanto,

que dói.

Maisa Schmitz
Enviado por Maisa Schmitz em 12/01/2019
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