Assustamento
Era só um menino...
Estava com uma
arma na mão
em frente da sua casa,
no portão.
Conversava com outro menino
e com uma menina.
Estufava o peito e ria!
Fazia mesuras,
apontava a arma pra
menina,
pro menino, não.
Ria e apertava o gatilho.
O que saía, não sei não,
mas a menina mudava de lado,
desconfortável:
- Para com isto! Que chateação!
Ele não parava:
empoderado,
insistente,
ria e apontava a arma
só pra menina,
pro menino, não!
Mas era tudo brincadeira!
A arma era maneira,
só de matar passarinho!
Matar bichinho,
"que é que tem", né?
Era um menino que ria,
uma menina acuada
e outro menino que fingia
que nada de mal, ali havia.
Crianças! Três crianças
reproduzindo com maestria
o mundo, os valores,
atitudes dos adultos:
um exercitando poder;
outra, a submissão
e o outro, a alienação.
Parei e olhei nos olhos deles.
Olhei fundo.
O menino com a arma na mão
não se envergonhou,
sustentou!
Havia um vazio, ali.
A menina baixou a cabeça.
Havia medo.
O outro menino lavou as mãos
e se afastou.
Havia indiferença.
Em seguida,
o grupo dispersou.
Meu coração,
tamanho assustamento,
acelerou, inquietou;
meu pelo, arrepiou!
Lamento tanto,
que dói.