memória
difusa, enevoada
borrando tal neblina
o contorno das pessoas,
das casas, das árvores
dos cães e dos medos
ao longo das ruas
dormentes do tempo
tudo vira parecença
minhas dores e sustos
vão sumindo no embaço
e, sem os duros contornos
a vontade a recriar
a gosto
as finitudes
imaterializadas
submissas
doces e suaves,
e não ásperas ou bruscas
e assim
a memória nos basta
Publicado no livro "gestação caosmopolita" (2014).