UM RIO QUE JÁ FOI DOCE.
De Mariana até Regência, o rastro final da imprudência,
boca do mar, triste história de contar, de um pescador entre tantos,
de um velho rio à sangrar.
Tinha lambari, tríra, surubim e dourado, todos, pela lama levados, num recente passado.
As cantadeiras lavadeiras de sua margem, hora desafinam, entre preces e lágrimas, suas dores confinam.
Assim vai o rio no seu triste remanso, como o enfermo ao infinito descanso, até o mar, d'onde as aves já não cantam, a não ser para chorar.
Choram também a Maria e o João desolados com a plantação, ali nada mais nasce a não ser consternação.
O silencio agonizante do guerreiro deixa gritar a indignação, é muita covardia para quem só ofereceu o perdão.
Águas límpidas que dele roubadas, dano cruel, angústia represada.
O gosto amargo do minério po décadas vai perdurar, mas um dia a cura há de vir,
porque o que Deus nos deu de graça, a ganância do homem não pode destruir,
cestas básicas e esmolas não corrompem o doce prazer de tudo existir.