REMANSO
Fiz meu ninho
Minha casa
Conforto em teu peito
Encontrei
Essa calma como aurora
Entardecer lento
Uma beleza sem tempo
Descansou o silêncio
Amorteceu a dor
O passado como parábola
Para o agora navegar
Estes seus braços
Não tão seguros
Me prendem na liberdade
Que me proporciona
E eu crio asas
Nestes pés
Que te procuram
Entre sonhos
Músicas, poesias e papéis
A memória é meu refúgio
Nas noites em que não posso te ter
Tenho felicidade
Desta memória tua
Não envelhecer
Mesmo que eu a perca de vista
A retina já foi afogada
Nesta tua profundidade
Onde ainda aprendo a nadar
Onde por vezes me deixo afogar
Mas não quero
Não quero mesmo
Chegar a margem
Chegar ao outro lado seco
Chegar ao fim
Deste teu leito
Onde me embebedo
Me banho
Navego
E sou peixe
Nas tuas águas claras
Derramadas nas manhãs Nas tarde e ainda mais fortes nas madrugadas
Quando me ponho a prender o fôlego
Para mergulhar na tua vastidão
O teu infinito
Que me atravessa
Que percorre
E inunda de prazer e glória
Deixarei que me alague
E que nunca toque os dedos
No solo infértil da realidade
Onde é proibido te amar!