BALANÇO POÉTICO
E nesta vaidade constante
Sonhei ser um cara importante
Ator, cantor ou prefeito
Ou quem sabe (me consolo)
Um semideus, meio Apolo,
Sarado, corpo perfeito...
Mas vejam só que desgraça:
Tanta imperfeição na carcaça,
Cabeça grande, corpo mirrado!
E nessa tranqueira, veja você:
Me chamaram até de ET
E outros adjetivos manjados!
E eu ali, na praça, varrendo,
Sonhando, sonhando e lendo
- A mão solitária batendo...
E esse estrupício no jornal?!
Tanta leitura – e no final –
Varrendo, varrendo e varrendo!
Então fingi ser poeta
Pra ver se no fim dessa reta
Encontro um oásis de abrigo.
Mas vejam só a presepada:
Tanta musa encantada,
Poucas dormiram comigo!
E eu aqui, sem conselho
Quando me olho no espelho
Desgosto e não desempenho.
Mas – justiça seja feita:
Se a aparência é imperfeita,
A essência é o melhor que tenho!