Olhar numa noite Gullar

(Poema do Livro Talento Poético - Editora Becalete, 2018)

O mundo que está lá fora, é só a nuvem passando,

e as proporções são pequenas, cheias de grande razão,

que cabem numa janela do quarto de uma vizinha.

Dentro de mim tem as retas obtusas se encontrando,

pois o quarteto da alma é a tangente da questão,

mostrando que o cateto dessa dor não é só minha.

Ninguém saberá dizer o que o monturo vem queimando,

nem mesmo as forças ocultas de dentro se elevarão,

no poço escondido estão Maria rei e José rainha.

Continuo aqui, vendo o mundo nada mudando.

Olhando pra dentro e voando, com um pássaro na mão,

bem maior é a hipotenusa, que marca o fim dessa linha.

Quem mente até aos comparsas, acha que está enganando,

todos dentro de uma farra, todos na mesma prisão,

na mesma noite veloz, que o Gullar sempre detinha.