Quase tudo.

Ao longo

de todo o percurso

Há coisas

que se movem

Tão devagar

Quanto a ferrugem

Mas o curso de tudo

As cores da luz

O ar, o vapor

A percepção

de que um dia pode voltar

A doer

A dor que nem mais doía

Esteja ela onde estiver

No movimento calado

A paisagem desbota

O lento acinzentar das folhas

No voltar atrás

O pranto que brota

Na incerteza, as escolhas

A beleza, o declínio

Nem se nota

O fascínio que não mais exerce

A quase ausência de pressa

Nessa fase da existência

A tocha nas mãos do Sol

A graça do tanto faz

Fragmentos de rocha

Calçamentos de estrada

Um muro, o quintal

As roupas secando no escuro

O varal

Até mesmo o número três

Nem sempre se encontra

Tampouco se os acha

Depois do número dois

Pois esse não volta mais

Quando o nada é tanta coisa

Pelo menos uma vez há de se ver

Assombrações na madrugada

A graça da vida

Tempestuosa, no breu na noite

Procura

Tudo passa

No curso das águas

Move pedras profundas

Pra que essas um dia

Se confundam

Com aquelas que o Sol rachou

O tempo, que resfria o próprio Sol

O encontro da noite com o dia

Solidão da madrugada fria

Até que se quede o Céu.

Mas, tem coisas

Que não há de se ver jamais

Nem no fim

Por que é que será

Que tem coisas na vida

Que pra sempre serão assim?

Edson Ricardo Paiva.