ULTIMA FASE?
Estava eu em Atlântida quando o mar a engoliu, bem depois em Pompéia quando as cinzas do Vesúvio à sucumbiu.
Vidas viradas pelo pó da estrada, nas páginas do que acredito, livro bendito, que me conduzira aos confins dos sonhos, onde bruxos me alimentavam de sabedoria.
O esquecimento se faz no alicerce dessa transição, vida pós vida e o perdão nos é oferecido como um bônus, que repassamos instintivamente.
Estou porém aqui agora a quase seis décadas, nessa passagem progressiva de um mundo de sombras e aparências, como bem definia Platão.
Na medida que envelheço vou pagando o preço, de não ter me arriscado mais, de achar que minha juventude fosse eterna, como tantos outros “eternos” que estão por ai com seus smartfones de última geração.
Tive tão pouco que o fogo consumiu numa rapidez incrível, prêmio pela divisão quando todos me sugeriam a somar, ignorei para não chorar.
A verdade é que a terceira idade de fato me chegou e não sei o que fazer com ela, me aterroriza esperar por gentileza sem que essa venha de bom grado e não algo que tenha que ser lembrado.
Prioridade prá mim nunca foi prioridade, nunca quis ser o primeiro, tão pouco o derrradeiro.
Achei que estaria pronto para quando ela chegasse, ledo engano, é como o prazer que nos aguarda desperto e a gente simplesmente cai no sono, até que dele nunca mais acorde.
Itamar Fernandes