Peixador
Queria entender os pescadores e peixes
Sempre nadaram em direção do sacrifício
Quando se lançam as redes e anzóis
De longe parecidos com lençóis
Parece um sonho mas é apenas um oficio
Uma luta sem fim pela sobrevivência
É o que move quem tem mais carência
Queria saber quem são seus pais
E seus irmãos, tios e sobrinhos
No emaranhado de caminhos e pesares
Nos mangues, nas marés, nos mares
Abandonados ficarão sozinhos
Oh espada, não usarás seus fios afiados
Largando seus filhotes para serem pescados
E vocês, anchovas, que atacam as sardinhas
Mas esquecem as bocas nas iscas com linhas
Me responda cação que tem primos temidos,
tubarões famintos, quase nunca são pescados
Não protegem os pargos do seus inimigos
Mas alimentam os homens com seus afilhados
E o linguado no cardume com o galo
Nem liga pra garoupa que não tem namorado
Oh tainha bela, sardinha, xareu
Num passeio com as manjubas são fisgados
Quem são seus pais e mães, coitados
Será que esperam em vão os filhos amados?
Nunca sabe se voltam e culpam sempre
O mar traíra porque revoltados
Não tem um olho de boi atento
Ate sargento quando o lodo revisa
Acaba preso nos puçás de ventos
O cinzel cortante e a linhada escraviza
Prende pra sempre a corvina no anel do laço
Socorre o pampo mas morre a betara
Na armadilha salobra de cansaço
Ficou o ultimo bagre que restara
Tudo pra matar a sede e a fome
Dos filhos inocentes nas mesas dos homens
Dos seus avós trouxeram os costumes
O choro e abraço que sobrou dos cardumes