NO PORÃO DE UM NAVIO NEGREIRO

NO PORÃO DE UM NAVIO NEGREIRO

Quem sou eu no meio do nada?

Meus deuses foram dominados?

Nesse porão escuro e fétido

Alguém responda, quem sou?

Quem é esse deus malvado

Que mantém-me acorrentado

No meio do mar bravio?

Onde estás, bendita morte?

Queria eu ter a sorte

De ser envolvido em teus braços.

Por que de mim se escondeu?

O céu desapareceu

Só vejo um vazio escuro

No fundo desse navio.

De hora em hora meu grito

No estalar do chicote

Não lembro ter feito nada

Que aos deuses desagradassem.

O ar está rarefeito

A dor que invade meu peito

Eu nunca havia passado.

E eu, ó morte imploro!

Venha a mim como socorro

Se aconchegue ao corpo meu.

Ou será, querida morte

Que não tenho mais nem a sorte

De ter um abraço seu?

JOEL MARINHO