A parte que não largo
Fábio Costa
 
Segurei você, com força e determinação.
Não quis soltar, por entender
Que segurando seu ser
Eu seria completo, pura fusão.
 
E a metade que me faltava
Por força do meu querer inconsequente
Não deixava você ser inteira
Nem mesmo ser alma benfazeja.
 
Segurar você era tortura
Daquelas que cortam a inteireza.
Mas não duvide da intenção
Era recheado de beleza.
 
O querer supremo do bem
Não nos permitia ver o todo.
E o vai e vem no espelho
Era sempre metade
Nem chegava a ser esboço.
 
Sem nos vermos por completo
Achando que o segurar de mãos nos completava.
Perdemos a noção do belo
Aprisionando as almas enganadas.
 
Quando de repente o cansaço
Soltou nossos punhos cerrados
Desaparecemos do reflexo partido.
 
O opaco resplandeceu.
Não havia reflexo de metades
Nem havia reflexos do eu.
 
Foi o tempo de reconstrução.
Da imagem perdida, alienada, da invasão.
Do desejo desmedido de intenção
De ser narciso, de ser partido.
 
Ele ainda está lá.
Encostado na parede do sótão.
É espelho velho, sim.
Mas que ainda reflete a solidão.
 
Por isso tenho medo de me por diante dele.
De não dar conta da minha inteireza em construção.
De querer um punho que me complete
Ou mesmo uma metade na contramão.