CONCRETISMO

0 canto

Nao quebra

A pedra,

A pedra

Nao quebra

O canto!

Por que o espanto?

Montanhas já

Nao há, a transpô-las.

Se foram nas asas

Do tempo.

Florestas, capoeiras,

Canaviais, mudaram-se

No curso do rio,

Embrenhando-se

Pela Serra dos Jequitibás,

Que geme

Pelo ronco

Da motosserra assustada.

Jequitibás ja nao há,

E nem a serra.

Em seu lugar

Desponta, portentosa

Arquitetura moderna

No templo

Do progresso!

Como mudar

A ordem do tempo,

Mover do seu eixo,

Os elementos?

Como escalar

O vento?

Pegar passagem

No tempo?

Nem tanto

o vento,

Os elementos,

Nem o tempo,

Dão passagem.

No vértice.

Ja está posta

A engrenagem

Que a tudo fenece ,

Ou transforma.

O silêncio

De pedras,

Vergalhões,

Cimento,

Concreto,

Fala tanto

Dessas ruas,

Dessas avenidas ,

Dessas praças!...

Tanta história contida

Nos muros de pedras ,

No silêncio

De bronze

Das estátuas ,

Dos monumentos

Espalhados pelas praças!

Em cada pedra,

Em cada paralepipido fincado,

A saudade do que fora

Antes um povoado....!

A rua

Não é a mais mesma,

A mesma

Nao é mais a casa,

O povoado

Agora é cidade,

Tomada por

Vultosas obras,

O progresso imperando ,

Os arranha-céus

Tomaram impulso:

A cidade virou

Selva de pedra!