QUEM SOMOS “EU”
Eu sou o tudo, eu sou o nada
Eu sou a cruz, eu sou a espada
Eu sou a lágrima caída de uma mãe sofrida
que não cicatriza a ferida pela perda de um filho
Eu sou o mendigo que vive na rua e no inverno morre de frio
Eu sou o riso e sou a tristeza de um palhaço
Eu sou a terra que soterra o casebre no pé do morro
Eu sou o barraco de madeira destruído num incêndio
Eu sou o ódio, eu sou o preconceito, eu sou a intolerância
Eu sou o machista, eu sou o homofóbico
Eu sou o xenofóbico, eu sou o racista
Eu sou o leite materno que alimenta a esperança
Eu sou o amor, eu sou a cumplicidade, eu sou a gratidão
Eu sou o negro, eu sou o homossexual, eu sou o igual, eu sou o imigrante
Eu sou o álcool, eu sou o crack, eu sou a cocaína
Eu sou o café, eu sou o chocolate
Eu sou o pedestre atropelado por um carro desgovernado
dirigido por um motorista bêbado
Eu sou o cachimbo que suga sua alma e a sua dignidade
Eu sou o pó que te leva ao pó com todo esse glamour de aparências
Eu sou o prazer e a dependência de sempre você me querer
Eu sou as crianças africanas escravizadas nas fazendas de cacau
Eu sou o sol, eu sou a lua, apareço de dia, apareço de noite
Muitas vezes me encontro comigo mesmo e me chamam de eclipse
Eu sou o arco-íris que colore o azul do céu
Eu sou a vida, eu sou a morte
Eu sou o azar, eu sou a sorte
Eu sou o mar, eu sou o vulcão
Eu sou o pecado, eu sou o perdão
Eu sou o oprimido, eu sou o opressor
Eu sou as mãos calejadas de um povo trabalhador
Eu sou o bem, eu sou o mal
Eu sou o princípio, eu sou o fim
Quantos desses “Eus” há em mim?
Quantos desses “Eus” há em você?