Retífica
Quando você se pergunta angustiado
Qual é o trato pra esquecer as dores
Que te fustigam como um condenado
Enchendo corpo e mente de clamores
Desmatando toda a pujança da vida
Suprimindo aqueles gritos estridores
Que existem numa existência ferida
Não queira ir em quaisquer doutores
Pois existe de evidente nesse mundo
Que não se conserta com esparadrapo
Uma pena ou um tormento profundo
Porque o único que retifica é o tempo
Se levas ao médico pessoa moribunda
E, à costureira, roupa que virou trapo
Ao tempo, cabe a existência abatida
Em que, de belo, não restou nem fiapo
Que ele apaga aquilo que é descabido
E coloca tudo a sete palmos da terra
Todas as desgraças que hajam havido
Que ficaram marcadas à fogo e ferra
E destrói toda a reúna que foi varrida
Que te faziam por dentro uma guerra
Torna-te então em uma pessoa garrida
Vem o futuro, e o passado se encerra
A memória e o pensamento revivido
Transformam-se a ti em doce alento
E tudo o que deveria ser esquecido
Precipita ao chão em esvaecimento
A única característica que é mantida
É a marca na pele igual a um retrato
Dás ao mecânico, carro em derrocada
E, ao tempo, a nossa alma em pranto