Sobre o tempo
Fábio Costa
 
Sabe o tempo?
Ele é senhor do meu destino,
Separa o joio do trigo
E devolve a vida ao seu lugar.
 
O tempo é criança que não cresce
Que chora, esperneia e pede
Pede colo, pede doce e esquece
Quão dura a vida pode ser.
 
Ele passa feito vento matinal;
Chega como tarde de primavera feliz
E toca à noite que assusta a alma.
 
O tempo não dorme como eu;
Não tem remorso como o meu
Tem apenas o formato do coração.
 
O tempo pode preencher a solidão
Como pode aniquilar a intenção do mal
Ele é rei despido de trono
Mas cavalga livre em nossas veias.
 
O tempo cura e liberta;
Aprisiona o querer.
Faz hora com o desejo
Purifica o gosto
E desgraça o saber.
 
Esse tempo é hilário
Provoca choro, riso, fiasco
Mas não deixa de conduzir a vida.
E de devolvê-la à inércia,
Onde o atemporal reina
E o sorriso inocente impera.
 
Se é sobre o tempo que escrevo
O que registrei se eternizou;
As contradições e construções da vida
Serão segundos do relógio em mim.
 
O tempo será espelho meu.
Horizonte em potência
Retrovisor em essência.
Será o agora que já morreu.